Gostamos de escrever e de pensar. Costumávamos trocar e-mails, mas decidimos expor nossas ideias a quem quer que queira vê-las, e assim surgiu o Abracabessa. Sem cedilha mesmo, porque tudo pode ser mudado - e mesmo que não seja para melhor, às vezes a mudança traz consequências fantásticas!

14 de mar. de 2010

NÃO USO ECO BAG – E NÃO ME CULPO PELO FURACÃO NO CHILE

Vou tentar explicar a quem tem menos de 30 anos como era a coleta de lixo quando eu era criança.
Não havia sacolas plásticas em supermercados, eram sacos de papel. Os lixeiros eram feitos de borracha, com restos de pneus. Tudo muito ecologicamente correto.
Tinham alças e tampa, e nos mais bonitos, o nome LIXO escrito, à tinta, num alinhamento impecável. Nos lixeiros mais pobrezinhos era pintado, a cal, o número da casa. E se verá quão importante era essa informação!
Quando o caminhão do lixo passava, os garis desciam correndo, sacavam a alça mais próxima, daí já caía a tampa e algum excesso de lixo. Lembrem-se: não havia sacolas plásticas, o lixo estava lá, descarado, de cara para cima para quem quisesse ver ou tivesse perdido a tampa do seu depósito – o que não era raro, e vocês verão por quê.
O caminhão continuava andando, enquanto os garis despejavam os dejetos da carroceria e depois jogavam o lixeiro pela rua. Alguns, mais cuidadosos, ou por serem assim mesmo ou porque as pessoas pagavam gorjetas, deixavam os lixeiros nas calçadas, normalmente no fim da outra rua, que a essa altura estava toda suja e malcheirosa, com as crianças correndo à procura dos lixeiros de sua casa, e espalhando chorume por todo o caminho de volta para casa. Depois disso as donas de casa iam limpar a rua e xingar as genitoras dos rapazes.
É a visão do inferno? Pois é o que vai acontecer se virarmos os conscientes da ECO BAG. Isso, aquela sacolinha ecológica, normalmente feita em algodão cru, muito bonitinha, com frases conscientes e desenhos bem feitos. Você as vê aos montes na Revista da Natura, nas propagandas da TVEducativa, nas revistas da Editora Abril, nos supermercados de grandes redes, na C&A. Enfim, apelo é o que não falta para você ajudar a preservar o meio ambiente.
A ideia é você sair do supermercado com as compras em caixas de papelão ou nessas sacolas, que devem ser reaproveitadas, ao invés de descartadas no meio ambiente, como ocorre com os sacos de plástico.
Só não explicam: se não terei mais sacolas plásticas, que reutilizo para colocar o lixo da casa, como vou levá-lo para fora agora?
Para usar as ECO BAGs o país precisaria ter, em pleno e perfeito funcionamento, um sistema NACIONAL de tratamento dos resíduos sólidos, afinal de contas não é porque tenho uma sacola ecologicamente correta que vou deixar de produzir resíduos. Aliás, por mais hábitos que eu mude e por mais verde que fique, é impossível viver em centros urbanos sem produzir lixo. Portanto, para que eu acredite na preocupação ecológica das empresas que estimulam o uso dessas sacolinhas, elas terão que me mostrar as ações que estão promovendo, junto ao poder público, para a implantação de um sistema decente de tratamento do lixo. Pelo menos, façam como as empresas de cigarro e insiram em suas eco bags e nas propagandas o seguinte aviso

“SEUS GOVERNANTES TEM OBRIGAÇÃO DE TRATAR ADEQUADAMENTE SEU LIXO. PROCURE O MINISTÉRIO PÚBLICO DE SUA CIDADE”

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