Gostamos de escrever e de pensar. Costumávamos trocar e-mails, mas decidimos expor nossas ideias a quem quer que queira vê-las, e assim surgiu o Abracabessa. Sem cedilha mesmo, porque tudo pode ser mudado - e mesmo que não seja para melhor, às vezes a mudança traz consequências fantásticas!

20 de out. de 2011

ESTUPRO É CRIME HEDIODO - Ok, agora avisa às autoridades, valeu?



Estive em Brasília em setembro e vi várias paradas de ônibus com cartazes parecidos com os da foto acima. Procurei no site do GDF e vi que se trata de uma campanha para estimular a denúncia desse tipo de crime ao mesmo tempo em que mostra para as autoridades como ele deve ser tratado.
O que achei infeliz demais foram esses cartazes. A não ser que haja outras peças, que haja uma propaganda intensa na TV e rádio veiculando mensagem diferente do que está contido no cartaz, pois nele tem-se a ideia de que a mulher não está cumprindo o seu papel. A vítima, para variar, vira A culpada. Já basta que em casos de estupro é comum ouvir, sobre a mulher atacada, comentários do tipo “Que roupa ela usava?” “Onde estava? A que horas?” “Mas isso é hora e local de mulher andar sozinha?” “Olha a roupa que estava usando!”...  
TOD@S sabem que se a mulher não denuncia é, principalmente, porque não recebe apoio para tal. Nem da família, nem dos amigos, e menos ainda na Delegacia. Olhando o cartaz tem-se a impressão de que a Delegacia vai acolher que é uma beleza!, o que está longe de ser realidade.
Para ter ideia de como a mulher é “acolhida” pela delegacia basta saber que a Delegacia de Mulheres não funciona nos períodos em que há mais ocorrências de violência contra a mulher: à noite e nos finais de semana e feriados.
Se a ideia é fazer com que a mulher denuncie então se deve modificar toda a rede que envolve a mulher violentada e PRINCIPALMENTE a DELEGACIA MAIS PRÓXIMA.

3 de out. de 2011

É hoje, e já faz 1 ano!

(dessa aí também só reste a lembrança, snif :/)

Não tenho boa memória para números. Decorar contatos que irão para a agenda telefônica não se faz possível para mim durante muito tempo. Não lembro com facilidade de datas comemorativas, e confesso que isso me já me rendeu alguns micos. Por isso, até me esforço um bocado para que aquelas as quais considero como prioridade não passem batidas. Foi por uma dessas lembranças, que chegam e nos roubam tempo e espaço, que a vontade de escrever me consumiu durante toda a manhã de hoje.

Estava concentrada em minhas tradicionais atividades de início de manhã, quando precisei datar uma das páginas que iria para impressão. Após organizar todas as informações, foi só preencher 03 de outubro, que sem me dar conta, fui instantaneamente levada para um acontecimento que em nada tem a ver com o dia de hoje.

Minha mente, sem pedir licença nem nada, me puxou pelo braço, e quando dei por mim já estava em Recife, em frente à livraria Cultura, ao rio Capibaribe, descansando enquanto observava, lá longe, a imensidão das “torres gêmeas”. Ainda deu tempo de almoçarmos juntas pelo Centro, ir “lá dentro”, e passar a tarde batendo perna pelo shopping.

A memória, que também deu um jeito de trazer Paulo e Patrícia, puxou um gaúcho que veio de uma grande cidade do sul (mas não pra dançar o tchan e a dança do txu txu, por favor...), resolveu nos apresentar e nos dar a chance de iniciar um tímido e rápido bate-papo. Permitiu até, aquela danada, que eu trouxesse comigo algumas fotos e um bilhete especialmente escrito em garranchos.

Essas mesmas companhias me disseram que um dos grandes baratos da vida são as histórias que nossas vivências nos permitirão contar, na medida em que, ainda que assumindo os eventuais riscos, não nos negamos à oportunidade de ir ao encontro. Hoje faz um ano. E é mais um acontecimento lindo que guardo comigo e que nunca esqueço.





20 de set. de 2011

Ainda sobre eles


Aproveitando que a Patrícia já iniciou a abordagem sobre o tema no post passado, quero também contribuir falando das qualidades encontradas no sexo oposto. É que além dessa “facilidade” em levar a vida, sem muitos acessórios e apetrechos para enfrentar as diversas situações do cotidiano, há outra característica que eu observo, observo, e morro de vontade de rir a cada vez que vou de encontro (o que as vezes preciso aprender a segurar por estar sozinha e não querer parecer louca, rs).

Estou falando é das conversas estreladas pelos protagonistas desses posts, os marmanjos! Alguém aí já percebeu o quanto há de sinceridade num diálogo reproduzido por eles? Longe de chamá-los de mal-educados, quero dizer é que eles são o supra-sumo da espontaneidade! Parafraseando um outro integrante da ala masculina, são “sinceros como não se pode ser”. E o mais engraçado? Não se importam nadinha com isso.

Outro dia, enquanto estava no intervalo entre uma aula e outra, sentei no corredor para ler um pouco. Na mesa ao lado, um grupo de cinco meninos falava e ria alto. Claro, a descontração estava bem ali, fazendo parte da conversa. Eles deviam estar no 1 período do curso, e falavam a respeito de suas primeiras impressões uns dos outros. O primeiro, sem papas na língua, contou ao colega: Bicho, quando te vi chegar na aula do fulano com aquela tua bolsa véia, pensei: Isso é um lascado! Mas é f***, ai tu foi embora de carro, e eu, pegando meu buzão, pensei: Rapaz, acho que o lascado sou eu! Risada geral depois. No que o outro retruca: E esse aqui, mermão? Só vivia faltando aula, e quando vinha não trazia nem caderno. Agora que ta de rolo com a CDF, só senta na frente, chega cedo, virou “homem de bem”, óia. Mais risada. E assim eles iam trocando suas impressões uns sobre os outros, em meio às gargalhadas, sem que nenhum dos participantes se sentisse ofendido ou magoado.

Isso me fez lembrar um amigo. Responsável por montar o time de futebol do seu bairro, ele logo explicava aos interessados em ingressar no time: “Ó, vale tudo, só não pode falar da mãe”... Acho mesmo que deva ter uma espécie de pacto intrínseco na questão. Para nós, que titubeamos ao responder para aquela desconhecida, que numa loja, geralmente pega um modelo 2 números menor que o seu e pergunta se não concordamos que a peça ficará linda, soa, no mínimo curioso, cada diálogo em que sinceridades são ditas com tanta rapidez quanto a velocidade do pensamento.

Outra vez, na biblioteca da faculdade, presenciei uma conversa sobre relacionamentos (além de serem mais diretos, parece que eles também têm uma maneira toda diferente de encarar as relações afetivas, mas isso é tema pra um outro post, hehe). Os envolvidos pareciam ser amigos de longa data, pois um deles chegou a relembrar as preferências do grupo na época da escola: “A gente sempre queria as mais velhas, aquelas que estavam no ensino médio, tu era um fdp que conseguiu pegar a maioria...”, disse, enquanto o outro interrompeu: ah, aquela época era outra coisa, hoje em dia é totalmente o contrário, todo mundo aqui correndo atrás das novinhas, diga ai se é mentira. Claro pô, as “macaca véia” ficam com joguinho pra não se prender ao cara, já as novinhas não, rapidinho tão tudo apaixonada, respondeu o outro. E a conversa seguiu com direito a até exemplificação com personagens e tudo o mais.

Sendo assim, se torna claro que há uma ausência de preocupação, cautela ou seja o que for, na hora do bate-papo masculino. O que para muitas de nós, só seria possível ser dito sem medo de magoar ou parecer indelicada após certa intimidade construída, para eles, ou por eles, é dito sem muitos rodeios ou cerimônia. Tudo tão simples quanto ir fazer prova com uma única caneta, ou sair de casa com chaves, carteira e celular jogados num bolso qualquer da calça.

8 de set. de 2011

Adoro os homens!

Imagem daqui

Já sei disso há algum tempo, só não conseguia definir direito o motivo, a tal razão de me fazer cair ao seus pés, adorando-os.
Eis que hoje, ao ver aquelas centenas de pessoas no maior freje e na maior tensão procurando suas salas, seus nomes, seus documentos, os homens pareceram – especialmente – brilhantes! Não era que estivessem com cara de inteligente porque fossem fazer a prova do concurso, mas a ausência de quase tudo que eles demonstravam. Não sei se chamo desapego ou desnecessidade mesmo. As mulheres com suas bolsas enormes, garrafas d’água, livros, papeis, apostilas, etc etc etc. e eles: calça + blusa + sapatênis. Quando muito um cinto. Pronto. A caneta (única, certamente) deveria estar no bolso da calça ou então pediriam à mulher ao lado que, certamente, teria mais de uma na bolsa, bem como dois lápis, remédio para dor de cabeça, absorvente, batom, chaves, carteira, três tipos diferentes de documento de identidade, comprovante de inscrição, barrinha de cereais, chocolate, chicletes, casaco de frio, agenda, celular, MP4, etc etc etc.
Essa foi a descrição do conteúdo da minha bolsa, arrumada cuidadosamente antes do concurso, para eu não esquecer nada importante. E não esqueci, é claro! E nem eles, certamente. A questão é que eles não precisam – de nada, nem de ninguém. Meu marido gosta de futebol e tanto faz para ele ver o jogo sozinho ou com os irmãos. O adolescente do andar de baixo gosta de jogos de vídeo-game e já o vi fazendo a mesma festa jogando sozinho/com a namorada/com os amigos. Os caras da prova não são como eu, que posso sentir frio, calor, fome, sede, dor de cabeça, etc etc etc. eles, não: ficaram 4 horas enfiados na sala sem ir ao banheiro, sem tomar água, sem tonturas, sem comer nada. Ainda olhei para trás antes de sair: estariam vivos? Vivinhos! Havia vários, lá fora, com cara de quem acabou de surfar, tranquilésimos, enquanto as mulheres viradas ligando pra todo mundo: pra falar que a prova terminou, que venha me buscar, que foi lasca, que foi massa etc etc etc
Quando Paulo sai sozinho leva as chaves de casa, do carro e os documentos espalhados pelos bolsos da calça. Quando leva a Marina: é bolsa com roupa, bolsa com lanche, pasta de tarefa escolar, brinquedo, tiara na cabeça etc etc etc. Ontem mesmo aconteceu de, ao desligar a última luz do apartamento, ela dizer “Papai, o batommmmm”. Sim, ele ligou e voltou e passou nela o gloss que havia ficado sobre a mesa.
Não digo que quero ser homem – não quero mesmo, nem na próxima encarnação – mas quero ficar aqui, de camarote, vendo esse espetáculo estranhíssimo que é essa multidão que precisa de tão pouco para viver!

20 de ago. de 2011

Era uma vez um PIRATA bom...

Imagem: Zahar
O único jogo de computador que minha filha (3 anos incompletos) gosta é um onde a Chapeuzinho vermelho come tortas e sorvetes e bombons (a cara dela gostar disso rsrsrs) e precisa fugir do Lobo Mau. Na semana passada me surpreendi com sua nova ideia: 
- Deixa o Lobo Mau pegar ela, mamãe
- Não, se ele te pegar, o jogo acaba
- Eu quero que ele pegue, mamãe
Olhei para minha pequena e entendi que ela gostava do Lobo Mau e, sei lá, queria um abraço. Então deixei que a vida rolasse e ele foi lá e fez o que tinha que fazer: detonou a partida. Affff, foi triste a carinha de decepção que minha boneca fez diante do FIM e desde então, desolada, vive resmungando pelos cantos, toda contrariada "O Lobo Mau não pode pegar, não pega!". Então minha princezinha, aos 3 anos, aprendeu uma lição: alma sebosa não alisa!
E Almodóvar com isso? É que um dia desses comprei um filme, que meu marido e eu gostamos muito, e indicamos para um amigo dele.
- A Patrícia comprou um filme tão bom, assista...(lá ia eu levantando para pegar)
- Ah tá, precisa pegar não, eu compro, já deve ter na banca, né? Comprou aonde?
- Pela Internet...ela não compra pirata
A partir daí rolou aquele discurso veeeeeeelho, mofaaaado, esbagaçaaaaado sobre o percentual que cabe ao artista, sobre o roubo da indústria dos CDs e DVDs, sobre a pressão que o consumidor pode fazer e blá, blá, blá. A primeira vez que ouvi isso deve ter sido há mais de 15 anos e soava meio como discurso anarquista/revolucionário, sabe? Tipo "vamos mudar o mundo, protestar" e tals. Com o passar do tempo vi que era só uma forma de se dar bem mesmo, de fazer parte do grupo dos espertos. Atualmente, há CDs originais que custam 5,00 mas a pessoa nem sabe porque já vai direto nas banquinhas de "piratas" (o amigo do meu marido não, é limpinho, ele tem uma fornecedora de confiança eh eh eh). As pessoas não sentem nenhum constrangimento em comprar produtos piratas e ainda criticam às que fazem questão dos "originais" - eu, se não fosse cabeça-feita seria a maior vítima de bullying da paróquia quando o assunto é esse, pois a galera chega ser ofensiva e desrespeitosa. E olha que eu nem emito minha opinião, só digo, humilde, humilde "Cara, meu marido é artista, faço isso não, se quero o filme eu loco ou compro". Aí pronto, é o mesmo que dizer "Me botem placa de otária e me joguem na roda...agora: atirar pedras!!!!"
Tem também o lance de baixar na net. Filmes, imagens, músicas. Eu até ouço músicas na net, mas normalmente para conhecer o CD ou cantor e depois comprar (ou não) o trabalho. 
O que acho lamentável é que alguém consiga assistir ao VOLVER, de Almodóvar, com todas as cores e loucuras e genialidades dele, vendo Penélope Cruz linda e incrivelmente ótima atriz, ver os créditos (aliás, quem os vê?) e sinta-se à vontade em não contribuir para aquilo. Sinta-se bem em ter aquilo tudo por R$ 3,00 que são entregues a não-sei-quem-para-não-sei-quê enquanto os otários-que-dão-dinheiro-às-mega-empresas pagam R$ 30,00.
É claro que eu sei que nos R$ 30,00 que eu pago estão embutidos os milhares de R$ 3,00 de quem pirateia, é claro qu eu sei que pago pelos outros, mas juro que não pago mais para entrar no Paraíso nem para ser politicamente correta nem para olhar para minha filha e dormir bem. É bem mais simples. É porque é o certo. É o justo.
E, claro, devo ter aprendido, bem cedo, que alma sebosa não alisa!

Nota: futucando para postar esse blog, vi um trecho interessante duma entrevista do Lobão (no Roda Viva da TV Cultura) sobre baixar músicas em MP3 na net. Vejam aqui.

Patrícia Gomes

14 de ago. de 2011

Geração Amy Winehouse

- Texto que fiz há mais de 1 semana, e mesmo que um pouco atrasado (peço desculpas), gostaria de dividir com vocês.


Penso ser o símbolo desta geração, a vida e os trejeitos da cantora britânica encontrada morta em sua casa há algumas semanas. Não que com isso queira estender à toda a população o problema com álcool e drogas. Embora boa parcela dos jovens se enquadre neste infeliz caso, generalizar é exagero.

Falo em relação ao caráter instantâneo destes tempos. Como diz a música: “Num piscar de olhos, tudo se transforma. Ta vendo? Já passou”. É isso que me vem à mente ao recordar-me da rápida carreira da artista (utilizar o termo recordar para falar de algo que parou de existir há menos de um mês é bem prova disso).

Amy, de voz e talento incontestáveis, se foi tão depressa quanto apareceu. Apenas sete anos de carreira, que lhe renderam alguns discos, um casamento conturbado seguido de divórcio e agressões físicas e verbais, um novo namoro, apresentações desastrosas nos palcos, muitos fãs colecionados junto com doses e mais doses de bebidas e drogas para regar toda a história.

Sua vida, como bem regem os clichês da atualidade, foi guiada pelo “agora”. Preocupar-se com o futuro não era bem o principal interesse da cantora, que já afirmou, segundo os jornais, que passava bebendo o tempo em que outras pessoas costumavam gastar para planejar o futuro.

Viver como se não houvesse amanhã parece mesmo ser uma das maiores prioridades desta geração, impulsionada por uma cultura consumista proposta em cena para incentivar a busca pelo prazer e pela felicidade a qualquer custo, embora assumam sua fugacidade. Tudo parece passar muito rápido e o ideal mesmo é aproveitar, ainda que possam existir riscos. Às vezes tenho a sensação de que eles incentivem ainda mais as ações praticadas.

Ao mesmo tempo em que é tomada por uma quantidade exorbitante de cores, sons e informações, dando a sensação de que o tempo está passando cada vez mais depressa, e aquilo que foi moda ontem, hoje virou vintage, parece que a imparcialidade tomou conta de tais vidas ao ponto de o incômodo causado por uma existência insatisfatória seja maior do que a consciência do mal que substâncias como as que Amy consumia podem causar.

Assistimos diariamente a um grande número de pessoas tornarem-se escravas e cometerem crimes sem sentido em nome de mais um precioso momento sob efeito da droga desejada. E para isso vale tudo, até levar o próprio corpo à decadência.

Acredito que isso se deva também pelo fato de a juventude ter se afastado dos movimentos religiosos. Contudo, deixando claro que não busco fazer apologia a nenhum tipo de religião, nem apontá-las como o meio mais eficaz de controle dos vícios, mas apenas relembrar que muitas das ações praticadas pelas gerações passadas eram contidas pela Igreja, que disseminava aos fiéis o risco de estes estarem cometendo “pecados”. Pensamento que cada vez mais é abolido e contestado. Na falta de uma segurança espiritual, o apoio muitas vezes segue sendo buscado em livros de auto-ajuda, esoterismos e substâncias químicas.

Sete anos. O tempo em que uma criança ainda nem conseguiu se desenvolver totalmente transformou-se num espaço de tempo suficiente para uma artista conseguir ascensão e queda. Enquanto isso, sua inconseqüência e irresponsabilidade misturam-se a visões glamourizadas de uma rebeldia típica de estrelas do rock e campanhas tardias de prevenção.

6 de jul. de 2011

“Todo grande amor só é bem grande se for triste?”


Quem é fã de Vinicius e de Tom deve ter tido a sensação de que já conhece esse título. Talvez, quem tenha assistido Alma Gêmea, novela exibida na Globo, também tenha tido uma impressão parecida. É que na verdade a frase utilizada para intitular esse texto, originalmente afirmação, e não pergunta, foi extraída de uma música composta por ambos, e também foi tema de Rafael e Serena, os mocinhos sofredores da telenovela global, que somente no último capitulo, através de sua morte, viram a possibilidade de sentir e eternizar o amor que sentiam.

Há ainda na canção, um outro trecho em que amante diz ao amado: “Por isso meu amor, não tenha medo de sofrer, pois todos os caminhos me encaminham pra você”. Levando-nos a crer que o sofrimento por amor é mesmo bonito, deve ser aceito e principalmente vivido, como forma de se estar experimentando um sentimento intenso e verdadeiro.

E é a partir disto que a afirmação presente na música acaba virando pergunta diante das minhas observações. Afinal de contas, por que quase sempre escolhemos e nos orgulhamos em exibir aquilo que foi mais difícil de conseguir? Será mesmo que tudo aquilo que causa maior esforço é o mais indicado para nossa felicidade?

Lendo um desses sites em que anônimos podem fazer perguntas para os cadastrados, vi que pediam para uma menina classificar dentre seu circulo de amizades, as amigas que ela acreditaria serem “para casar”. Fiquei me questionando sobre como se definiria se alguém é para casar ou não, ao menos que ambos estejam apaixonados e experimentem uma convivência harmoniosa. Sob este ponto de vista, a meu ver, seria praticamente impossível uma pessoa ser classificada universalmente como digna de casamento ou não, visto que somos uma população heterogênea.

Na real, até imagino como essa seleção possa ser feita de acordo com uma lógica bastante comum dentro da nossa sociedade: Meninas que topam tudo de primeira X Meninas recatadas. O curioso é que existam pessoas (sobretudo homens) que buscam parceiras (os) mais “desinibidas”, mas quando encontram, acabam por fazer essa distinção mentalmente, e rapidamente perdem o interesse.

Do mesmo modo, observo que nós meninas, muitas vezes “enjoamos” daquele cara que liga constantemente para saber o que estamos fazendo, contar como foi o dia e dizer que não para de pensar em nós. Ao invés de parecer apaixonado, o menino sufoca. E ai por mais fofinho que possa parecer, geralmente acaba levando um toco.

Tanto que outra teoria bastante comum que dizem sobre as mulheres, é que preferimos os cafajestes. Termo bastante popular que faz menção ao cara atencioso, dedicado, sedutor, e principalmente, misterioso. Que preferem o flerte ao compromisso. Sendo por isso totalmente incerto tê-lo exclusivamente. Daí o motivo para explicarem as paixões que por ventura acontecem. Acusam-no de nutrir a idéia de que seremos a exceção na vida do tal “cafa”.

Mas, por que será que preferimos o mais difícil? Por que será que a menina que mostra sinal positivo sem necessitar de muitas “investidas” é jogada pra escanteio mais rápido? E entre nós, por que aquele cara que está sempre disponível demais, se mostrando interessado, nem sempre é levado a sério e mais sufoca do que atrai?

Será mesmo que história de amor que se preze necessita de boas doses de sofrimento, desencontros e baldes de lágrimas derramadas? É mesmo mais digno nutrir sentimento e correr atrás de quem pouco nos dá sinal de retribuição?

As vezes tenho a sensação de que estamos todos correndo atrás de uma coisa que ninguém sabe direito o que é. “Feito cegos, egos em agonia”. Talvez imaginando uma estrela de brilho raro, uma pedra preciosa ou outra raridade qualquer, que em certos momentos, por ser oferecida sem tanta dificuldade, estranhamos e rejeitamos pela aparente facilidade. É como se estivéssemos todos em nossas tocas em busca do amor, porém nenhum de nós sabe direito o que quer que ele possa ser.

21 de jun. de 2011

Quando o "chic" e a desorganização trocam de lugar




Alguém aí desconhece o ‘xote dos milagres’, ‘medo do escuro’, e ‘rindo a toa’? Desconfio que não. Entre outras músicas, são sucessos que estouraram com o Falamansa, grupo que comemora seu 10º aniversário neste ano, e que veio a Maceió no fim de maio, num show conferido por essa quase jornalista que vos fala. Em clima junino, esta e outras atrações prometiam o forró em seu repertório, e a noite ganhou o nome de “Arraiá Chic”. Vide a quantidade de pessoas de xadrez (fato que ganhou comentário de Tato, vocalista do Falamansa), o Arraiá de fato existiu, mas, o chic, ficou mesmo brevemente no nome. Isso se considerarmos os possíveis sinônimos de ser “chic”. Ter educação? Classe... Organização? Se forem esses os acompanhantes do adjetivo, o Arraiá perde imediatamente seu complemento.

A começar pela entrada, onde um amontoado de gente se apertava e empurrava na tentativa de conseguir entrar. Para os que queriam algum tipo de informação, era aborrecimento comprovado, já que os poucos funcionários na porta declaravam prontamente que sua função era outra, e em nada podiam ajudar. Uma vez vencida a dificuldade na entrada, e ainda no começo do show, com mais da metade do público fora, o ambiente ainda era tranqüilo e confortável. Andar pelo local (Armazém Uzina) e ir ao banheiro eram coisas feitas sem dificuldade. Ainda. Algum tempo depois, quando a atração principal da noite subia ao palco, é que a situação começou a se complicar.

Me senti dentro de um ônibus lotado, em horário de pico, presa na Fernandes Lima. Já com todo o público dentro da casa de show, se mexer era uma atividade extremamente difícil. Certamente teria perdido meu ponto. Se atentarmos para o fato de que se tratava de um show de forró, um estilo dançante, e que para dançar, pessoas precisam de espaço, já da pra imaginar o empurra-empurra que resultou quando o xote da alegria começou não é?

Um amigo bem-humorado disse ter trocado o clássico 2 pra lá e 2 pra cá, na hora da dança, e ajustado para ½ passo de cada vez, e sendo assim, deu tudo certo. Brincadeiras a parte, e levando em conta o preço cobrado por ingressos, bem como a própria competência da organização de eventos como esse, muito me aborrece a ganância e a falta de cuidado de produções que não se importam com o conforto e bem-estar do público pagante, vendendo ingresso a torto e a direita, sem atentar para a capacidade suportada do lugar escolhido.

Faltava espaço pra dançar, pra se mexer, faltava até banheiro. A fila que se formou ao redor do único w.c. disponível para cada sexo ia até o corredor do Armazém, resultando em muita espera e mais gente se esbarrando. Se faltava tudo isso, obviamente que respirar já era exigir demais, não é? A prova foi uma amiga, que me contou que desmaiou pouco depois da segunda banda se apresentar. E a causa não foi excesso de bebida, mas queda de pressão devido a aglomeração de pessoas e local abafado. Sorte a dela que o namorado estava perto, a segurou e levou para fora da casa de show, sentando-a na primeira cadeira de lanchonete improvisada que viu pela frente.

Infelizmente, a lógica do lucro não está presente apenas em grandes produtores, e gira em torno de eventos como este por um todo. Ainda meio tonta, a amiga foi mandada se levantar da cadeira, já que não iria consumir nenhum lanche (obviamente não tinha condições para tal), e a dona do estabelecimento nada tinha a ver com seu mal-estar. Pelo contrário, preocupava-se com os possíveis clientes que poderia perder por não encontrar local para sentar – mesmo que segundo ela, várias outras mesas e cadeiras estivessem vazias, e o show, nem havia chegado a metade, de modo que muito provavelmente ela ainda não fosse ter clientes suficientes para lotar a lanchonete.

Cerca de 1h30 da manhã, encontramos um casal de amigos, com os ingressos ainda em mãos, contando sobre o tumulto que acabara de acontecer na porta, inclusive com quebra de vidro, o que fez com que muita gente, assim como eles, entrasse sem precisar apresentar nenhum comprovante de pagamento ou identidade (o que deve ter sido a sorte de muitas menininhas menor de idade que foram barradas ainda no início). Em suma, muita confusão e desconforto para uma noite em que se prometia descontração, alegria, e um arraiá... Chic!

24 de mai. de 2011

BLOGAGEM COLETIVA: "Dia das Mães Combina com Mãe Consciente?"



Quando minha irmã nasceu eu já era grandinha. Esperava por ela como quem esperava uma boneca pra tomar conta e chamar de sua. Vai ver é por isso que até hoje teimo em me comportar como sua mãe, mesmo que às vezes entre nas brincadeiras e mais pareça a filha da história.

Sinto que a recíproca é verdadeira. Lembro agora do dia das mães do ano passado, em que ganhei a dedicação de um texto cujo tema era a “mulher da minha vida”, proposto em sala de aula. Bastante emocionada e acreditando que minha irmã era órfã de mãe, a professora leu o texto em voz alta para a turma toda, e posteriormente foi perguntar à menina como havia acontecido tal perda.

Sem entender direito a pergunta, ela afirmou que tinha mãe, mas que também gostava muito da irmã, e por isso quis falar sobre nossa relação em sua redação. (E foi a partir daí que eu fiquei conhecida por todas as suas coleguinhas, passando, inclusive, a receber convites para as festinhas e saídas kkkkkk).

A questão é que minha irmã desde que nasceu tem duas referências em casa. Como ela mesma diz, tem duas mães. Não nos chateamos com o comentário da professora, pelo contrário,  rimos um bocado e até hoje brinco com minha mãe dizendo que roubei seu lugar e a filha é minha. Mas, na real, o assunto não pode ser visto com risadas e precisa ser discutido mais seriamente. E se de fato ela fosse órfã ou criada por um casal de homossexuais? (o que já é legalizado pelo STF), como ficaria a situação dela na escola em datas como essa?

Afinal, há muito (será que um dia fomos?) deixamos de ser um conjunto homogêneo de população. Gays, héteros, adolescentes grávidas, tudo isso resultou numa variedade de modelos de família, e que precisam ser respeitadas e compreendias pelas instituições. Principalmente a escola, onde a educação já começa a ser fornecida nos primeiros anos de vida dos indivíduos.

Avós criando netos, tios e tias criando sobrinhos, mães e pais adotivos, homens e mulheres homossexuais que também compartilham do desejo da maternidade e paternidade. Os tipos são muitos e tendem a se multiplicar cada vez mais. Sendo assim, sou de acordo de que devemos pensar além do “quanto mais triste, mas bonito soa”, clichê que fica muito bem na literatura, nos filmes da Disney e na música do Falamansa. E só.

Crianças órfãs sofrendo em dia dos pais ou das mães pode até fazer sucesso nas telas, mas, na vida real, não tem sentido algum. O significado comercial das datas não pode ter maior projeção e relevância que seus efeitos para determinados grupos que naturalmente não irão se encaixar na comemoração, e consequentemente, se abalar por isso.

Fiquei feliz quando Patrícia – idealizadora da blogagem coletiva sobre o tema – me contou que o dia da família, mesmo não sendo tão popular quanto dia das mães, dos pais ou dos namorados, de fato existe. E acredito que seja uma idéia que possa ser mais explorada pelas escolas, de modo que cada criança, com a singularidade encontrada em sua família, possa transformar o evento num encontro muito mais rico, digno de ser festejado, e principalmente, a que possa se sentir incluída.

Se já existem tantas coisas para separar pessoas (classe social, religião, times de futebol...), as datas comemorativas, ao invés de fragmentar ainda mais, deveriam oferecer a sociedade como um todo um meio de celebrar a sua união. Afinal, a família é também sinônimo de amor.

Mães, pais, tias, tios, avôs e avós... A todos que de alguma forma contribuem para uma infância cheia de carinho e cuidado para os pequenos, devem sentir que o dia é também seu. Inclusive, recado que deve ser dado à minha irmã, que é mãe da Sophie, Cloe, Júlio Eduardo, Júlia e Mimi, todos bichos de pelúcia, aos quais ela zela e cuida com o bem-querer de uma protetora.