Gostamos de escrever e de pensar. Costumávamos trocar e-mails, mas decidimos expor nossas ideias a quem quer que queira vê-las, e assim surgiu o Abracabessa. Sem cedilha mesmo, porque tudo pode ser mudado - e mesmo que não seja para melhor, às vezes a mudança traz consequências fantásticas!

20 de set. de 2011

Ainda sobre eles


Aproveitando que a Patrícia já iniciou a abordagem sobre o tema no post passado, quero também contribuir falando das qualidades encontradas no sexo oposto. É que além dessa “facilidade” em levar a vida, sem muitos acessórios e apetrechos para enfrentar as diversas situações do cotidiano, há outra característica que eu observo, observo, e morro de vontade de rir a cada vez que vou de encontro (o que as vezes preciso aprender a segurar por estar sozinha e não querer parecer louca, rs).

Estou falando é das conversas estreladas pelos protagonistas desses posts, os marmanjos! Alguém aí já percebeu o quanto há de sinceridade num diálogo reproduzido por eles? Longe de chamá-los de mal-educados, quero dizer é que eles são o supra-sumo da espontaneidade! Parafraseando um outro integrante da ala masculina, são “sinceros como não se pode ser”. E o mais engraçado? Não se importam nadinha com isso.

Outro dia, enquanto estava no intervalo entre uma aula e outra, sentei no corredor para ler um pouco. Na mesa ao lado, um grupo de cinco meninos falava e ria alto. Claro, a descontração estava bem ali, fazendo parte da conversa. Eles deviam estar no 1 período do curso, e falavam a respeito de suas primeiras impressões uns dos outros. O primeiro, sem papas na língua, contou ao colega: Bicho, quando te vi chegar na aula do fulano com aquela tua bolsa véia, pensei: Isso é um lascado! Mas é f***, ai tu foi embora de carro, e eu, pegando meu buzão, pensei: Rapaz, acho que o lascado sou eu! Risada geral depois. No que o outro retruca: E esse aqui, mermão? Só vivia faltando aula, e quando vinha não trazia nem caderno. Agora que ta de rolo com a CDF, só senta na frente, chega cedo, virou “homem de bem”, óia. Mais risada. E assim eles iam trocando suas impressões uns sobre os outros, em meio às gargalhadas, sem que nenhum dos participantes se sentisse ofendido ou magoado.

Isso me fez lembrar um amigo. Responsável por montar o time de futebol do seu bairro, ele logo explicava aos interessados em ingressar no time: “Ó, vale tudo, só não pode falar da mãe”... Acho mesmo que deva ter uma espécie de pacto intrínseco na questão. Para nós, que titubeamos ao responder para aquela desconhecida, que numa loja, geralmente pega um modelo 2 números menor que o seu e pergunta se não concordamos que a peça ficará linda, soa, no mínimo curioso, cada diálogo em que sinceridades são ditas com tanta rapidez quanto a velocidade do pensamento.

Outra vez, na biblioteca da faculdade, presenciei uma conversa sobre relacionamentos (além de serem mais diretos, parece que eles também têm uma maneira toda diferente de encarar as relações afetivas, mas isso é tema pra um outro post, hehe). Os envolvidos pareciam ser amigos de longa data, pois um deles chegou a relembrar as preferências do grupo na época da escola: “A gente sempre queria as mais velhas, aquelas que estavam no ensino médio, tu era um fdp que conseguiu pegar a maioria...”, disse, enquanto o outro interrompeu: ah, aquela época era outra coisa, hoje em dia é totalmente o contrário, todo mundo aqui correndo atrás das novinhas, diga ai se é mentira. Claro pô, as “macaca véia” ficam com joguinho pra não se prender ao cara, já as novinhas não, rapidinho tão tudo apaixonada, respondeu o outro. E a conversa seguiu com direito a até exemplificação com personagens e tudo o mais.

Sendo assim, se torna claro que há uma ausência de preocupação, cautela ou seja o que for, na hora do bate-papo masculino. O que para muitas de nós, só seria possível ser dito sem medo de magoar ou parecer indelicada após certa intimidade construída, para eles, ou por eles, é dito sem muitos rodeios ou cerimônia. Tudo tão simples quanto ir fazer prova com uma única caneta, ou sair de casa com chaves, carteira e celular jogados num bolso qualquer da calça.

8 de set. de 2011

Adoro os homens!

Imagem daqui

Já sei disso há algum tempo, só não conseguia definir direito o motivo, a tal razão de me fazer cair ao seus pés, adorando-os.
Eis que hoje, ao ver aquelas centenas de pessoas no maior freje e na maior tensão procurando suas salas, seus nomes, seus documentos, os homens pareceram – especialmente – brilhantes! Não era que estivessem com cara de inteligente porque fossem fazer a prova do concurso, mas a ausência de quase tudo que eles demonstravam. Não sei se chamo desapego ou desnecessidade mesmo. As mulheres com suas bolsas enormes, garrafas d’água, livros, papeis, apostilas, etc etc etc. e eles: calça + blusa + sapatênis. Quando muito um cinto. Pronto. A caneta (única, certamente) deveria estar no bolso da calça ou então pediriam à mulher ao lado que, certamente, teria mais de uma na bolsa, bem como dois lápis, remédio para dor de cabeça, absorvente, batom, chaves, carteira, três tipos diferentes de documento de identidade, comprovante de inscrição, barrinha de cereais, chocolate, chicletes, casaco de frio, agenda, celular, MP4, etc etc etc.
Essa foi a descrição do conteúdo da minha bolsa, arrumada cuidadosamente antes do concurso, para eu não esquecer nada importante. E não esqueci, é claro! E nem eles, certamente. A questão é que eles não precisam – de nada, nem de ninguém. Meu marido gosta de futebol e tanto faz para ele ver o jogo sozinho ou com os irmãos. O adolescente do andar de baixo gosta de jogos de vídeo-game e já o vi fazendo a mesma festa jogando sozinho/com a namorada/com os amigos. Os caras da prova não são como eu, que posso sentir frio, calor, fome, sede, dor de cabeça, etc etc etc. eles, não: ficaram 4 horas enfiados na sala sem ir ao banheiro, sem tomar água, sem tonturas, sem comer nada. Ainda olhei para trás antes de sair: estariam vivos? Vivinhos! Havia vários, lá fora, com cara de quem acabou de surfar, tranquilésimos, enquanto as mulheres viradas ligando pra todo mundo: pra falar que a prova terminou, que venha me buscar, que foi lasca, que foi massa etc etc etc
Quando Paulo sai sozinho leva as chaves de casa, do carro e os documentos espalhados pelos bolsos da calça. Quando leva a Marina: é bolsa com roupa, bolsa com lanche, pasta de tarefa escolar, brinquedo, tiara na cabeça etc etc etc. Ontem mesmo aconteceu de, ao desligar a última luz do apartamento, ela dizer “Papai, o batommmmm”. Sim, ele ligou e voltou e passou nela o gloss que havia ficado sobre a mesa.
Não digo que quero ser homem – não quero mesmo, nem na próxima encarnação – mas quero ficar aqui, de camarote, vendo esse espetáculo estranhíssimo que é essa multidão que precisa de tão pouco para viver!