Gostamos de escrever e de pensar. Costumávamos trocar e-mails, mas decidimos expor nossas ideias a quem quer que queira vê-las, e assim surgiu o Abracabessa. Sem cedilha mesmo, porque tudo pode ser mudado - e mesmo que não seja para melhor, às vezes a mudança traz consequências fantásticas!

24 de mai. de 2011

BLOGAGEM COLETIVA: "Dia das Mães Combina com Mãe Consciente?"



Quando minha irmã nasceu eu já era grandinha. Esperava por ela como quem esperava uma boneca pra tomar conta e chamar de sua. Vai ver é por isso que até hoje teimo em me comportar como sua mãe, mesmo que às vezes entre nas brincadeiras e mais pareça a filha da história.

Sinto que a recíproca é verdadeira. Lembro agora do dia das mães do ano passado, em que ganhei a dedicação de um texto cujo tema era a “mulher da minha vida”, proposto em sala de aula. Bastante emocionada e acreditando que minha irmã era órfã de mãe, a professora leu o texto em voz alta para a turma toda, e posteriormente foi perguntar à menina como havia acontecido tal perda.

Sem entender direito a pergunta, ela afirmou que tinha mãe, mas que também gostava muito da irmã, e por isso quis falar sobre nossa relação em sua redação. (E foi a partir daí que eu fiquei conhecida por todas as suas coleguinhas, passando, inclusive, a receber convites para as festinhas e saídas kkkkkk).

A questão é que minha irmã desde que nasceu tem duas referências em casa. Como ela mesma diz, tem duas mães. Não nos chateamos com o comentário da professora, pelo contrário,  rimos um bocado e até hoje brinco com minha mãe dizendo que roubei seu lugar e a filha é minha. Mas, na real, o assunto não pode ser visto com risadas e precisa ser discutido mais seriamente. E se de fato ela fosse órfã ou criada por um casal de homossexuais? (o que já é legalizado pelo STF), como ficaria a situação dela na escola em datas como essa?

Afinal, há muito (será que um dia fomos?) deixamos de ser um conjunto homogêneo de população. Gays, héteros, adolescentes grávidas, tudo isso resultou numa variedade de modelos de família, e que precisam ser respeitadas e compreendias pelas instituições. Principalmente a escola, onde a educação já começa a ser fornecida nos primeiros anos de vida dos indivíduos.

Avós criando netos, tios e tias criando sobrinhos, mães e pais adotivos, homens e mulheres homossexuais que também compartilham do desejo da maternidade e paternidade. Os tipos são muitos e tendem a se multiplicar cada vez mais. Sendo assim, sou de acordo de que devemos pensar além do “quanto mais triste, mas bonito soa”, clichê que fica muito bem na literatura, nos filmes da Disney e na música do Falamansa. E só.

Crianças órfãs sofrendo em dia dos pais ou das mães pode até fazer sucesso nas telas, mas, na vida real, não tem sentido algum. O significado comercial das datas não pode ter maior projeção e relevância que seus efeitos para determinados grupos que naturalmente não irão se encaixar na comemoração, e consequentemente, se abalar por isso.

Fiquei feliz quando Patrícia – idealizadora da blogagem coletiva sobre o tema – me contou que o dia da família, mesmo não sendo tão popular quanto dia das mães, dos pais ou dos namorados, de fato existe. E acredito que seja uma idéia que possa ser mais explorada pelas escolas, de modo que cada criança, com a singularidade encontrada em sua família, possa transformar o evento num encontro muito mais rico, digno de ser festejado, e principalmente, a que possa se sentir incluída.

Se já existem tantas coisas para separar pessoas (classe social, religião, times de futebol...), as datas comemorativas, ao invés de fragmentar ainda mais, deveriam oferecer a sociedade como um todo um meio de celebrar a sua união. Afinal, a família é também sinônimo de amor.

Mães, pais, tias, tios, avôs e avós... A todos que de alguma forma contribuem para uma infância cheia de carinho e cuidado para os pequenos, devem sentir que o dia é também seu. Inclusive, recado que deve ser dado à minha irmã, que é mãe da Sophie, Cloe, Júlio Eduardo, Júlia e Mimi, todos bichos de pelúcia, aos quais ela zela e cuida com o bem-querer de uma protetora.