RESTOS DE SOMBRAS MORTAS
Sirenes em silêncio,
Luminosos apagados
Farejam bichos tocaiados,
Denunciados pelo medo
Manhã de sol, boca de grota...
Quatro mini batalhões de ostensivas carrancas,
Quatro tropas revestidas de arrogância,
Intolerâncias, beligerâncias e outras ânsias
Levam a passear suas indumentárias
Fardas, cassetetes e botas
Coturnam a paz da vizinhança
Em busca de sombras tortas
E restos de fugas há muito tempo mortas
Espezinham calçadas, paredões,
Janelas e portas de papelão,
Feitas com caixas de embalar frutas,
Armários, restos de guarda roupas,
Computadores e aparelhos de televisão
.
Estampam nos olhos a escuridão
E no peito estufam estrelas de latão,
Divisas e abusos de autoridade
Sem face, sem alma ou identidade
Apenas Veiculam acessórios:
Boinas, armas, capacetes,
Rádios roucos, luvas e coletes,
Algemas de prata, cartucheiras e porretes
Máscaras, munições, joelheiras, camburões,
Abrindo alas à festa dos rabecões
Colhendo a morte espalhada
Acima, ao meio e abaixo dos grotões.
Esse episódio aconteceu na semana passada. Eu estava em casa e ouvi uma correria e um zum zum zum na rua. Ao abrir o portão me deparei com quatro carros de polícia, algumas motos e seus respectivos ocupantes. Eles tinham sido chamados por uma denúncia anônima de que tinham dois bandidos escondidos nas imediações. Os caras desceram dos veículos e rondaram a vizinhança como lobos em busca de presas. O que achei interessante é que eu tentava olhar seus rostos e eles pareciam não ter, como se fossem parte de uma massa indefinida tendo em comum apenas os gestos repetitivos, parecendo que eles eram apenas veículos de seus apetrechos de trabalho.
Paulo Caldas, fevereiro 2010
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