Gostamos de escrever e de pensar. Costumávamos trocar e-mails, mas decidimos expor nossas ideias a quem quer que queira vê-las, e assim surgiu o Abracabessa. Sem cedilha mesmo, porque tudo pode ser mudado - e mesmo que não seja para melhor, às vezes a mudança traz consequências fantásticas!

7 de out. de 2010

POUCA VOGAL X DESPERDÍCIO DE PALAVRAS

* Pouca Vogal é um projeto paralelo de rock brasileiro criado pelos cantores gaúchos Duca Leindecker (líder e guitarrista da banda Cidadão Quem) e Humberto Gessinger (líder e baixista do grupo Engenheiros do Hawaii).

Nunca fui muito conhecedor do grupo Engenheiros do Hawaii. Da banda Cidadão Quem eu nada conheço. Do primeiro escutei umas músicas, as que mais eram tocadas em rádio e nas propagandas de apresentações do grupo.

Eis que tenho uma sobrinha - acho que devo gostar muito dela - que é enlouquecidamente fã do engenheiros e principalmente do Gessinger.

Ela soube que o Pouca Vogal – grupo de dois, a menor banda do rock gaúcho, formado por Humberto e Duca - vinha fazer uma apresentação em Recife. Ela, tricotando com a minha mulher, que também é louca por shows, inventou de assistir à apresentação. Minha sobrinha, quase se ajoelhando aos meus pés, me pediu com os olhos cheios dágua para que eu as levasse. Isso por que ela sabe que não gosto de shows. E não gosto, não pelo show, mas pelos atropelos causados desde as filas para conseguir ingressos, a chegada com estacionamento pago ou a chateação dos flanelas nos obrigando a pagar pelo espaço que é público. Ainda mais em recife. Sem falar no que mais me irrita: os atrasos para começar a apresentação – este atrasou uma hora e quinze - e o risco de assaltos que são constantes hoje em dia.

Gosto muito de música, mas diante disso tudo prefiro ficar em casa...

Fomos pra Recife. A viagem foi superagradável. Somos uma ótima companhia...

A apresentação foi maravilhosa. O que eu vi foi um espetáculo muito bem cuidado e produzido, uma estrutura muito bem montada no sentido de manter a independência do projeto, um público receptivo e uma performance de dois artistas que se renovaram e nos trouxeram um show vibrante, refinado, empolgante e acima de tudo artístico, no mais alto sentido dessa palavra. Os instrumentos vibravam com eles e eles vibravam com os instrumentos como poucas vezes vi um artista fazer. Toda essa vibração emanava dos dois e se derramava para a plateia que devolvia com carinho, participação de cantar junto e êxtase. Eram dois seres no palco manifestando-se com uma infinidade de instrumentos tocados com todo o corpo, dos pés à cabeça.

Humberto tocou com a boca, com as mãos e com os pés: voz, violão, viola caipira, harmônica de boca, piano, percussão eletrônica e outros instrumentos que desconheço; Duca fez voz, guitarra, violão, pandeirola e bumbo. Tocavam tudo ao mesmo tempo, numa coordenação impressionante.

Além da bela musicalidade das novas canções em Pouca Vogal, o que me chamou a atenção foi a capacidade de terem colocado uma nova roupagem, uma releitura em músicas há muito conhecidas.

Na terceira vez que saíram e voltaram atendendo aos pedidos de biz da plateia, gessinger brincou com o público e disse: “se vocês quiserem, nós temos um vasto repertório e podemos cantar até amanhã à noite...” risos eufóricos de todos. Ao que complementou: “afinal não temos nada para fazer amanhã, não é mesmo? O nautico, o santa cruz e o sport já jogaram hoje mesmo, né?”

O amanhã a que se referiu era o dia da eleição e da sua desimportância. O dia de voltar para casa para votar em... quem???

Em alguns trechos da estrada papéis com propagandas voavam sem rumo...

Sabendo que não chegaríamos a tempo de votar, entramos numa cidade para justificar nossa “ausência”. Uma cidade pequena e notadamente pobre, mas “enfeitada” de papéis espalhados pelas ruas com propagandas de políticos que mais tarde virariam lixo, lixo e mais lixo. Dinheiro transformado em LIXO. E assim foi por toda a viagem. Os papéis voavam e levavam ao léu palavras vãs, vazias, acompanhadas de imagens $CARA$, fotoshopeadas, frias, na verdade ridículas... – se um pulhítico tivesse que bancar sua campanha com o próprio bolso como nós artistas costumamos fazer com nossos trabalhos, certamente ele não o faria, pois ele não tem o amor e a generosidade que nós temos.

Chegando em Maceió vi a cidade suja, também tomada e forrada pelo lixo dos panfletos, adesivos, cartazes, banners e palavras gastas e amassadas, consoantes e vogais desirmanadas e jogadas fora, ultrapassadas, num processo que rouba o nosso dinheiro – e se repete cansativa e exaustivamente, não se renova e fica cada vez mais distante da arte renovada de, por exemplo, Duca e Gessinger.

Parabéns tches! Tche tem pouca vogal!

* fonte - wickpédia

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