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14 de ago. de 2011

Geração Amy Winehouse

- Texto que fiz há mais de 1 semana, e mesmo que um pouco atrasado (peço desculpas), gostaria de dividir com vocês.


Penso ser o símbolo desta geração, a vida e os trejeitos da cantora britânica encontrada morta em sua casa há algumas semanas. Não que com isso queira estender à toda a população o problema com álcool e drogas. Embora boa parcela dos jovens se enquadre neste infeliz caso, generalizar é exagero.

Falo em relação ao caráter instantâneo destes tempos. Como diz a música: “Num piscar de olhos, tudo se transforma. Ta vendo? Já passou”. É isso que me vem à mente ao recordar-me da rápida carreira da artista (utilizar o termo recordar para falar de algo que parou de existir há menos de um mês é bem prova disso).

Amy, de voz e talento incontestáveis, se foi tão depressa quanto apareceu. Apenas sete anos de carreira, que lhe renderam alguns discos, um casamento conturbado seguido de divórcio e agressões físicas e verbais, um novo namoro, apresentações desastrosas nos palcos, muitos fãs colecionados junto com doses e mais doses de bebidas e drogas para regar toda a história.

Sua vida, como bem regem os clichês da atualidade, foi guiada pelo “agora”. Preocupar-se com o futuro não era bem o principal interesse da cantora, que já afirmou, segundo os jornais, que passava bebendo o tempo em que outras pessoas costumavam gastar para planejar o futuro.

Viver como se não houvesse amanhã parece mesmo ser uma das maiores prioridades desta geração, impulsionada por uma cultura consumista proposta em cena para incentivar a busca pelo prazer e pela felicidade a qualquer custo, embora assumam sua fugacidade. Tudo parece passar muito rápido e o ideal mesmo é aproveitar, ainda que possam existir riscos. Às vezes tenho a sensação de que eles incentivem ainda mais as ações praticadas.

Ao mesmo tempo em que é tomada por uma quantidade exorbitante de cores, sons e informações, dando a sensação de que o tempo está passando cada vez mais depressa, e aquilo que foi moda ontem, hoje virou vintage, parece que a imparcialidade tomou conta de tais vidas ao ponto de o incômodo causado por uma existência insatisfatória seja maior do que a consciência do mal que substâncias como as que Amy consumia podem causar.

Assistimos diariamente a um grande número de pessoas tornarem-se escravas e cometerem crimes sem sentido em nome de mais um precioso momento sob efeito da droga desejada. E para isso vale tudo, até levar o próprio corpo à decadência.

Acredito que isso se deva também pelo fato de a juventude ter se afastado dos movimentos religiosos. Contudo, deixando claro que não busco fazer apologia a nenhum tipo de religião, nem apontá-las como o meio mais eficaz de controle dos vícios, mas apenas relembrar que muitas das ações praticadas pelas gerações passadas eram contidas pela Igreja, que disseminava aos fiéis o risco de estes estarem cometendo “pecados”. Pensamento que cada vez mais é abolido e contestado. Na falta de uma segurança espiritual, o apoio muitas vezes segue sendo buscado em livros de auto-ajuda, esoterismos e substâncias químicas.

Sete anos. O tempo em que uma criança ainda nem conseguiu se desenvolver totalmente transformou-se num espaço de tempo suficiente para uma artista conseguir ascensão e queda. Enquanto isso, sua inconseqüência e irresponsabilidade misturam-se a visões glamourizadas de uma rebeldia típica de estrelas do rock e campanhas tardias de prevenção.

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