Gostamos de escrever e de pensar. Costumávamos trocar e-mails, mas decidimos expor nossas ideias a quem quer que queira vê-las, e assim surgiu o Abracabessa. Sem cedilha mesmo, porque tudo pode ser mudado - e mesmo que não seja para melhor, às vezes a mudança traz consequências fantásticas!

7 de mai. de 2010

"Chuva de contairnes, entertainers no ar".

Big Brother Brasil. Rebolation. Carnaval. Ressaca do carnaval. Gaiola das Popozudas. Sorria, você está na Record. Plantão de Polícia. Quem deve deixar a casa? Vote agora! A fazenda. O Fuxico. Copa do mundo. Esquadrão da moda. Zorra Total. Casseta e Planeta. Gugu ou Faustão? NxZero. De volta pra minha terra. Swinga, Requebra, Samba Maceió.



Sabe aquela época lá do colégio em que você se sentia sufocado assistindo aula de química e torcia pra tocar logo pro intervalo? Então, parece que agora todos nós podemos pular essa parte chata e ir direto pro pátio, para a hora do recreio!
Não entendeu como? Super simples. Basta ligar a televisão ou outro meio de espaço midiático como a internet, e observar o estilo de conteúdo ao qual estamos constantemente sendo bombardeados.
É o regime novo da atriz que emagreceu 10 kgs em 1 mês, um cantor que está de casinho novo, a filha de um outro artista, que nem é do meio, mas já ganha condição de celebridade, ou mesmo o seu Zé da esquina que foi ferido num episodio violento, e ainda agoniza, enquanto as câmeras se voltam atentas para o seu corpo.
“Por que a noticia é um show”, diz frequentemente um locutor de um programa de rádio AM. E baseados nesse espetáculo é que os meios de expressão da mídia resolvem agir. Programas e noticias que coloquem o expectador á par de seus direitos, sejam eles coletivos ou individuais, são desconsiderados. Porém o BBB, o rebolation e outros tantos dentre os citados acima que nos deixam apenas passivos e nada nos acrescentam, chovem aos montes.
E digo isso por que me recordo da época em que o BBB ia ao ar; numa certa manhã, ligo a TV e me deparo com Ana Maria Braga e mais meia dúzia de famosos discutindo e analisando o perfil de cada participante do reality, e o rumo que este poderia tomar, a medida que os jogadores fossem saindo. Custei a acreditar que em meio á tantas questões mais serias à serem discutidas, um programa dedicasse tanto tempo (e reflexão oO) a algo tão banal. Audiência...
Algumas semanas antes, logo após o carnaval, lá estava o Faustão trazendo o vocalista do Parangolé, para ensinar a dançar o seu “Rebolation”, e ainda foi perguntado a ele de onde surgiu inspiração para compor tal sucesso (parece até ironia, mas não foi!), sim, o cara é compositor, e a inspiração veio quando ele assistia vídeos no youtube. (Posso fazer uma lista de bandas que mereciam muito mais aquele horário para divulgação de seu trabalho).
O que são destinados a nós são informações como esta, de caráter hedonista. No meio dessa produção do entretenimento entram também mortes, violência, drogas e tragédias de todos os tipos, empurradas goela abaixo, em plena hora do almoço, em programas de meio-dia.
Para conseguir uma matéria vale tudo, conversar com o acusado diretamente na cela, filmar corpos recém - assassinados, tentar à todo custo entrevistar a mãe ainda em choque que acaba de perder seu filho...
Após minutos de “tragédia” no ar, surge logo um merchandising, uma partida de futebol, ou o desenho animado, destinados à quebrar essa “tensão” e nos fazer voltar a passividade outra vez.
Me diz se não funciona? Claro que sim, nos acostumamos á ver a brutalidade ao nosso redor e achar que ela é mesmo mais um elemento do nosso cotidiano, por que já foi tão filmado que vira rotina, e se vira rotina, perde todo aquele sentimento que a gente sente quando entra em contato com alguma coisa nas primeiras vezes. Dessa forma, nos acostumamos a ouvir que um amigo foi assaltado e ao invés de questionar o mundo, pedir que ele tome mais cuidado, por que o mundo... ”Ah, o mundo ta assim mesmo...”.
Vira rotina, banalidade, e a gente se acostuma a cruzar os braços e não sair da posição de contemplador. Apenas comprando ingressos, matando a sede, sendo sedados, e quando o espetáculo acaba, (nem dando o trabalho de levantar-se) pegar o controle e mudar de canal.


* Título referente à música Chuva de Contairnes, de Humberto Gessinger.

3 comentários:

  1. os jornais nacionais, digamos assim - todos, por q são todos iguais - começam com uma enxurrada de crimes e sempre terminam com o salvamento de uma baleia, com o nascimento de uma nova borboleta, o resgate de um panda ou com o despetalar de um novo tipo de orquídea.
    a vida é uma desgraça, acostumem-se a ela e durmam em paz que o nosso jornal fica por aqui. alíás, horrível terminar um jornal com essa frase ridícula e pobre, mas todos dizem a mesma coisa.

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  2. Ontem a Ana Paula Padrão terminou o jornal com o Desabafo da mãe que teve o filho espancado até morrer, diante dela. E disse "Não dá nem para desejar boa noite depois disso. Amanhãa gente se vê." Parece algo tolo, mas para o formato pseudo-neutro que o jornal "sério" tem, é um grande ato de posicionamento político. A TV não é neutra e o fato de mostrar o que mostra, o vc citou no texto, apresenta bem a quem ela serve. As massas devem se manter desinformadas, ou melhor "enformadas" nas atuais limitações. TV é para isso, é instrumento de alienação de massas, só isso.

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  3. Pois é, também achei interessante essa posição da Ana Paula, foi um meio de se posicionar mesmo, já que a cada término de jornal, tem-se apenas um "boa noite" para nos oferecer, e fim de espetáculo. Um exemplo que não citei no texto, é o do Bóris Casoy. Graças a um vazamento de audio, ouvimos posterior à uma matéria em que apareciam garis, um comentário ofensivo partindo do apresentador à esses profissionais. No outro dia, ele apenas desculpou-se pelo comentário infeliz, e seguiu-se a apresentação do jornal, como se fosse um problema apenas técnico, e nosso dever era mesmo esquecer logo aquilo, tão rápidamente quanto um novo programa fosse ao ar. O brinquedo de ontem tava com defeito, toma esse novo e não faz barulho...

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