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Imagem: Zahar |
O único jogo de computador que minha filha (3 anos incompletos) gosta é um onde a Chapeuzinho vermelho come tortas e sorvetes e bombons (a cara dela gostar disso rsrsrs) e precisa fugir do Lobo Mau. Na semana passada me surpreendi com sua nova ideia:
- Deixa o Lobo Mau pegar ela, mamãe- Não, se ele te pegar, o jogo acaba
- Eu quero que ele pegue, mamãe
Olhei para minha pequena e entendi que ela gostava do Lobo Mau e, sei lá, queria um abraço. Então deixei que a vida rolasse e ele foi lá e fez o que tinha que fazer: detonou a partida. Affff, foi triste a carinha de decepção que minha boneca fez diante do FIM e desde então, desolada, vive resmungando pelos cantos, toda contrariada "O Lobo Mau não pode pegar, não pega!". Então minha princezinha, aos 3 anos, aprendeu uma lição: alma sebosa não alisa!
E Almodóvar com isso? É que um dia desses comprei um filme, que meu marido e eu gostamos muito, e indicamos para um amigo dele.
- A Patrícia comprou um filme tão bom, assista...(lá ia eu levantando para pegar)
- Ah tá, precisa pegar não, eu compro, já deve ter na banca, né? Comprou aonde?
- Pela Internet...ela não compra pirata
A partir daí rolou aquele discurso veeeeeeelho, mofaaaado, esbagaçaaaaado sobre o percentual que cabe ao artista, sobre o roubo da indústria dos CDs e DVDs, sobre a pressão que o consumidor pode fazer e blá, blá, blá. A primeira vez que ouvi isso deve ter sido há mais de 15 anos e soava meio como discurso anarquista/revolucionário, sabe? Tipo "vamos mudar o mundo, protestar" e tals. Com o passar do tempo vi que era só uma forma de se dar bem mesmo, de fazer parte do grupo dos espertos. Atualmente, há CDs originais que custam 5,00 mas a pessoa nem sabe porque já vai direto nas banquinhas de "piratas" (o amigo do meu marido não, é limpinho, ele tem uma fornecedora de confiança eh eh eh). As pessoas não sentem nenhum constrangimento em comprar produtos piratas e ainda criticam às que fazem questão dos "originais" - eu, se não fosse cabeça-feita seria a maior vítima de bullying da paróquia quando o assunto é esse, pois a galera chega ser ofensiva e desrespeitosa. E olha que eu nem emito minha opinião, só digo, humilde, humilde "Cara, meu marido é artista, faço isso não, se quero o filme eu loco ou compro". Aí pronto, é o mesmo que dizer "Me botem placa de otária e me joguem na roda...agora: atirar pedras!!!!"
Tem também o lance de baixar na net. Filmes, imagens, músicas. Eu até ouço músicas na net, mas normalmente para conhecer o CD ou cantor e depois comprar (ou não) o trabalho.
O que acho lamentável é que alguém consiga assistir ao VOLVER, de Almodóvar, com todas as cores e loucuras e genialidades dele, vendo Penélope Cruz linda e incrivelmente ótima atriz, ver os créditos (aliás, quem os vê?) e sinta-se à vontade em não contribuir para aquilo. Sinta-se bem em ter aquilo tudo por R$ 3,00 que são entregues a não-sei-quem-para-não-sei-quê enquanto os otários-que-dão-dinheiro-às-mega-empresas pagam R$ 30,00.
É claro que eu sei que nos R$ 30,00 que eu pago estão embutidos os milhares de R$ 3,00 de quem pirateia, é claro qu eu sei que pago pelos outros, mas juro que não pago mais para entrar no Paraíso nem para ser politicamente correta nem para olhar para minha filha e dormir bem. É bem mais simples. É porque é o certo. É o justo.
E, claro, devo ter aprendido, bem cedo, que alma sebosa não alisa!
Nota: futucando para postar esse blog, vi um trecho interessante duma entrevista do Lobão (no Roda Viva da TV Cultura) sobre baixar músicas em MP3 na net. Vejam aqui.
Patrícia Gomes