Gostamos de escrever e de pensar. Costumávamos trocar e-mails, mas decidimos expor nossas ideias a quem quer que queira vê-las, e assim surgiu o Abracabessa. Sem cedilha mesmo, porque tudo pode ser mudado - e mesmo que não seja para melhor, às vezes a mudança traz consequências fantásticas!

21 de jun. de 2011

Quando o "chic" e a desorganização trocam de lugar




Alguém aí desconhece o ‘xote dos milagres’, ‘medo do escuro’, e ‘rindo a toa’? Desconfio que não. Entre outras músicas, são sucessos que estouraram com o Falamansa, grupo que comemora seu 10º aniversário neste ano, e que veio a Maceió no fim de maio, num show conferido por essa quase jornalista que vos fala. Em clima junino, esta e outras atrações prometiam o forró em seu repertório, e a noite ganhou o nome de “Arraiá Chic”. Vide a quantidade de pessoas de xadrez (fato que ganhou comentário de Tato, vocalista do Falamansa), o Arraiá de fato existiu, mas, o chic, ficou mesmo brevemente no nome. Isso se considerarmos os possíveis sinônimos de ser “chic”. Ter educação? Classe... Organização? Se forem esses os acompanhantes do adjetivo, o Arraiá perde imediatamente seu complemento.

A começar pela entrada, onde um amontoado de gente se apertava e empurrava na tentativa de conseguir entrar. Para os que queriam algum tipo de informação, era aborrecimento comprovado, já que os poucos funcionários na porta declaravam prontamente que sua função era outra, e em nada podiam ajudar. Uma vez vencida a dificuldade na entrada, e ainda no começo do show, com mais da metade do público fora, o ambiente ainda era tranqüilo e confortável. Andar pelo local (Armazém Uzina) e ir ao banheiro eram coisas feitas sem dificuldade. Ainda. Algum tempo depois, quando a atração principal da noite subia ao palco, é que a situação começou a se complicar.

Me senti dentro de um ônibus lotado, em horário de pico, presa na Fernandes Lima. Já com todo o público dentro da casa de show, se mexer era uma atividade extremamente difícil. Certamente teria perdido meu ponto. Se atentarmos para o fato de que se tratava de um show de forró, um estilo dançante, e que para dançar, pessoas precisam de espaço, já da pra imaginar o empurra-empurra que resultou quando o xote da alegria começou não é?

Um amigo bem-humorado disse ter trocado o clássico 2 pra lá e 2 pra cá, na hora da dança, e ajustado para ½ passo de cada vez, e sendo assim, deu tudo certo. Brincadeiras a parte, e levando em conta o preço cobrado por ingressos, bem como a própria competência da organização de eventos como esse, muito me aborrece a ganância e a falta de cuidado de produções que não se importam com o conforto e bem-estar do público pagante, vendendo ingresso a torto e a direita, sem atentar para a capacidade suportada do lugar escolhido.

Faltava espaço pra dançar, pra se mexer, faltava até banheiro. A fila que se formou ao redor do único w.c. disponível para cada sexo ia até o corredor do Armazém, resultando em muita espera e mais gente se esbarrando. Se faltava tudo isso, obviamente que respirar já era exigir demais, não é? A prova foi uma amiga, que me contou que desmaiou pouco depois da segunda banda se apresentar. E a causa não foi excesso de bebida, mas queda de pressão devido a aglomeração de pessoas e local abafado. Sorte a dela que o namorado estava perto, a segurou e levou para fora da casa de show, sentando-a na primeira cadeira de lanchonete improvisada que viu pela frente.

Infelizmente, a lógica do lucro não está presente apenas em grandes produtores, e gira em torno de eventos como este por um todo. Ainda meio tonta, a amiga foi mandada se levantar da cadeira, já que não iria consumir nenhum lanche (obviamente não tinha condições para tal), e a dona do estabelecimento nada tinha a ver com seu mal-estar. Pelo contrário, preocupava-se com os possíveis clientes que poderia perder por não encontrar local para sentar – mesmo que segundo ela, várias outras mesas e cadeiras estivessem vazias, e o show, nem havia chegado a metade, de modo que muito provavelmente ela ainda não fosse ter clientes suficientes para lotar a lanchonete.

Cerca de 1h30 da manhã, encontramos um casal de amigos, com os ingressos ainda em mãos, contando sobre o tumulto que acabara de acontecer na porta, inclusive com quebra de vidro, o que fez com que muita gente, assim como eles, entrasse sem precisar apresentar nenhum comprovante de pagamento ou identidade (o que deve ter sido a sorte de muitas menininhas menor de idade que foram barradas ainda no início). Em suma, muita confusão e desconforto para uma noite em que se prometia descontração, alegria, e um arraiá... Chic!