Gostamos de escrever e de pensar. Costumávamos trocar e-mails, mas decidimos expor nossas ideias a quem quer que queira vê-las, e assim surgiu o Abracabessa. Sem cedilha mesmo, porque tudo pode ser mudado - e mesmo que não seja para melhor, às vezes a mudança traz consequências fantásticas!

30 de mar. de 2010

50 anos de Renato Russo




Quem me conhece pelo menos um pouco sabe do meu apreço pelo rock da década de 80. Então, já que andei sumida, não vejo hora melhor que postar, que não seja em meio ás comemorações do 50º aniversário de Renato Russo, integrante de uma das bandas nacionais mais marcantes da época.

Não procuro levantar nenhum tipo de fanatismo (pra falar a verdade nem gosto do termo fã) ou certo apego ao passado,, longe disso, sou só mais uma necessitada de música de qualidade, e que sofre para encontrar sons agradáveis (à cabeça e) aos ouvidos desde que bandas como a Legião Urbana pararam de produzir.

Talvez por que a impressão que tenho ao entrar em contato com nosso rock nos dias de hoje é de estagnação, falta de conteúdo, e, sobretudo de causa.Principalmente se pararmos pra analisar o histórico das produções musicais anteriores. No momento que antecede a aceitação e consequente consagração do rock oitentista estava a MPB e a Bossa Nova, carregadas de manifestações contra a opressão e a ditadura.

Após esse descontentamento, surgiram as primeiras bandas de rock, formadas por jovens que queriam dar uma nova "cara" á esse estilo no Brasil, que antes dependia de esporádicas apresentações de artistas internacionais como The Police e Van Halen.

Jovens como Cazuza, Gessinger e mesmo Renato, cada um á seu modo faziam da música uma forma de expressão de suas concepções a cerca da fase em que viviam, seja ela de cunho social, político ou sentimental.

Percebia-se que as composições próprias tinham importância para tais artistas. Notamos no próprio Renato, uma grande facilidade em alcançar dimensões distintas. Basta, por exemplo, ouvirmos Vento no Litoral e Geração Coca-Cola, para perceber tais diferenças.

Talvez por que até aí o lance da música como produto e do ouvinte como mero "consumidor" ainda não tivesse tão escancarado. Por ser um estilo recente, a onda era se divertir. Compor, tocar, em meio á noitadas, bebidas, drogas e relações (heterossexuais ou homossexuais) efêmeras. Fazendo assim com que os artistas da época fossem considerados representantes da juventude de sua geração.

Após a morte de Renato e outros artistas do momento, vimos surgir, no fim de 90 e começo de 2000, um novo panorama do rock no Brasil, representados por bandas como: Nx Zero, Fresno, Pitty, CPM 22, Hateen, Strike, entre outros. O pós-punk dava lugar ao Emocore. Com composições restritas á nostalgia do amor não correspondido, a produção começou a encontrar retorno num público também menor, de 10 á 18 anos.

Dentre as poucas bandas oitentistas que ainda estão na ativa nos dias de hoje, percebe-se que algumas, como Capital Inicial e o Frejat (em carreira solo), uma perda de identidade em consequência das exigências do mercado. A maioria, como os dois citados, prefere continuar regravando grandes hits do passado, já que é uma posição mais "confortável".

Outras, como IRA, Kid Abelha e Engenheiros do Hawaii decretaram uma pausa, antes de suscitarem virar couverts de si mesmos, como já falou o líder da última banda. Saindo da zona de conforto e acreditando que só tensa a corda vibra legal, Gessinger e Leindecker, líder da também em pausa Cidadão Quem, resolveram se juntar e ir em busca de um novo projeto, o Pouca Vogal.

Recordando agora uma entrevista dada por um artista de 80, concordo que "o maior sinal de respeito de um artista em relação ao seu público é não pensar nele quando cria. Não quero que os artistas dos quais eu gosto pensem em mim quando criam, que os políticos nos quais eu voto façam pesquisa pra saber como eu quero que eles falem e atuem. Quero que eles tenham uma visão e corram o risco de encontrar ou não quem se interesse por ela.”

Era isso que eu sentia - e ainda sinto - cada vez que coloco uma música da Legião pra tocar. Renato, que nem era russo, e sim Manfredini Junior, compunha com total racionalidade do que estava passando, e mesmo com a possível chance de não fazer sentido para alguns, lá estava ele jogando toda a sua sinceridade no palco, mesmo como um Trovador Solitário

Sinceridade e por que não personalidade, que parece estar cada vez mais escassa por aqui. Constato enquanto escrevo e ouço de fundo alguns cantores famosos, junto com a formação da Legião, tentando reproduzir alguns dos sucessos da banda como uma "homenagem" ao cantor que faria aniversário. Digo tentativa, por ter sido um fracasso. Seja pelos tons de vozes completamente opostos e desafinados, ou pela interpretação mecânica e nonsense de músicas tão conhecidas e adoradas, que falariam por si só.

Após tamanho fiasco, decido ficar por aqui, antes de começar a soar piegas e o tiro sair pela culatra feito o programa de Serginho Groisman. Antes, contento-me em dizer que Renato, com sua singularidade e talento, deixou uma imensa contribuição á nossa música. Ai de nós, em tempos de vazio como este, se não tivéssemos músicas e composições como as suas, para garantir a saúde dos ouvidos.

Ao Renato, os meus parabéns! :)

24 de mar. de 2010

Um dia sonhei com Isabela, alguns meses depois da tragédia. Sonhei que ia por uma rua e encontrava seu retrato numa sarjeta. Apanhei-o e, assim que o tive em minhas mãos, a imagem e o papel desfizeram-se... Acordei, pensei um pouco no sonho e levantei-me, dando início à rotina diária tomando o café da manhã para sair, acompanhando minha mulher ao ponto do ônibus, como fazia todos os dias.
Conversando, ficávamos esperando o transporte. Percebi, nesse dia, alguma coisa brilhante mergulhada numa poça d’água me chamando a atenção. Quando minha mulher se foi e eu voltava para casa, olhei o objeto que brilhava: era uma fotografia de uma menina mergulhada na sarjeta. Ao lado da foto tinha uma caixa de papelão abandonada e amassada, cheia de recortes de papéis e restos de fitas coloridas.
Meio sem jeito, por causa da quantidade de pessoas ao redor, apanhei a fotografia. Deixei escorrer e levei-a para casa, lavei-a e botei para secar. Não parava um só instante de pensar no sonho que tivera e no fato de ter encontrado aquele retrato, até que resolvi fazer um desenho em grafite sobre papel e desse desenho fiz esse poema, uma pequena homenagem a Isabela:



CACHOEIRAS E LUARES

Recolhi o teu sorriso na sarjeta
E o fiz correr aos cachos
Em cachoeiras de mares
E escadarias de luares

Resgatei os teus cabelos nus
Na umidez de uma alameda
E guardei-os no aconchego
Penumbral de uma gaveta

No escuro vi brilhar,
À luz do teu olhar de pingo d’água,
Silhuetas nas vidraças
De pouso de passarada,
Remo, leme, um cais,
Um pontilhão e uma barcaça...

Colhi as tuas mãos
Na aridez cínzea da rua
Lavei a tua tez
No gotejar tênue da pia
Toquei a claridade de uma manhã meio fria
Com lápis, borracha, algodão
Suspiros de maresia

A riscos de luz de sol,
Num papel de seda pura
Acendi em teu semblante
A iluminância da lua...
GRAMADOS GRIS

Desaba o mundo em terremotos,
Furacões e tsunamis,
Bombardeios, trombas d’água,
Hecatombes e Nardonis

Mostra o mundo suas garras
Derretidas, degeladas,
Cada vez mais afiadas

Mostra suas cartas e farpas
E diz também saber bater na cara
E jogar o jogo da insensatez,
Da cupidez, da arrogância,
Da falta de infância
De distâncias sextandares
Despejada como lixo pelos ares

Marcham roseirais ao cadafalso,
Murcham emílias belas
Sob o granizo teimoso em não derreter

Ao túmulo margaridas e begônias,
Madressilvas e peônias,
Flores de maio, orquídeas, beneditas
Lírios, hibiscos, boninas,
Sempre vivas desprovidas de vida...

Crisântemos sem casas,
Aguapés e pés de acácias
Adornam faces vitimais da criançada

Em descompasso, passo em falso,
Tropeçam e caem Isabelas aos pedaços,
Em cachos despetalados
Empalados em gramados gris

23 de mar. de 2010

CORDEIROS EM COMPRAS



E por falar em compras eu gostaria de levantar uma questão ligada ao comportamento das pessoas quando vão a elas. Será que ninguém se toca ou enxerga ou, sendo mais contundente, será que esse povo não tem vergonha na cara para deixar de fazer compras nos supermercados da rede Bompreço? O Bompreço, e não é de hoje vem de muito tempo, demonstra um verdadeiro descaso com seus clientes quando, num horário de pico, coloca apenas dois caixas para atender a uma fila que faz a volta em toda sua loja.

Nós não temos necessidade disso não! E isso é simples de resolver.

Num dia desses fui fazer uma pequena compra e me dirigi ao caixa de fila única que dobrava e dobrava e dobrava. Fiquei estarrecido com o tamanho da fila. Olhei pro lado dos caixas e vi um monte de guichês desocupados e apenas dois caixas trabalhando num ritmo acelerado e estressante. Olhei pras caras das pessoas e vi um monte de cordeiros concordantes com aquele absurdo.

Como falar não adianta e chamar a atenção geral, com barulho e protesto não me levaria a nada, pois ninguém me apoiaria ou engrossaria minha voz dando-me no mínimo a pecha de metido ou maluco, simplesmente larguei o carrinho e fui pro Extra, que fica ao lado.

Chegando lá encontrei os mesmos produtos, uma fila bem menor e, contei, nove caixas funcionando. Não demorei cinco minutos para comprar o que eu queria e não tive que me submeter a nenhum tipo de abuso.

Não estou aqui fazendo propaganda de Extra ou de quem quer que seja. Apenas não admito ser tratado com descaso e quando isso acontece dou um jeito de mudar a situação, não ficando quieto balançando a cabeça aceitando aquilo gratuitamente.



PAULO CALDAS

março - 2010

14 de mar. de 2010

NÃO USO ECO BAG – E NÃO ME CULPO PELO FURACÃO NO CHILE

Vou tentar explicar a quem tem menos de 30 anos como era a coleta de lixo quando eu era criança.
Não havia sacolas plásticas em supermercados, eram sacos de papel. Os lixeiros eram feitos de borracha, com restos de pneus. Tudo muito ecologicamente correto.
Tinham alças e tampa, e nos mais bonitos, o nome LIXO escrito, à tinta, num alinhamento impecável. Nos lixeiros mais pobrezinhos era pintado, a cal, o número da casa. E se verá quão importante era essa informação!
Quando o caminhão do lixo passava, os garis desciam correndo, sacavam a alça mais próxima, daí já caía a tampa e algum excesso de lixo. Lembrem-se: não havia sacolas plásticas, o lixo estava lá, descarado, de cara para cima para quem quisesse ver ou tivesse perdido a tampa do seu depósito – o que não era raro, e vocês verão por quê.
O caminhão continuava andando, enquanto os garis despejavam os dejetos da carroceria e depois jogavam o lixeiro pela rua. Alguns, mais cuidadosos, ou por serem assim mesmo ou porque as pessoas pagavam gorjetas, deixavam os lixeiros nas calçadas, normalmente no fim da outra rua, que a essa altura estava toda suja e malcheirosa, com as crianças correndo à procura dos lixeiros de sua casa, e espalhando chorume por todo o caminho de volta para casa. Depois disso as donas de casa iam limpar a rua e xingar as genitoras dos rapazes.
É a visão do inferno? Pois é o que vai acontecer se virarmos os conscientes da ECO BAG. Isso, aquela sacolinha ecológica, normalmente feita em algodão cru, muito bonitinha, com frases conscientes e desenhos bem feitos. Você as vê aos montes na Revista da Natura, nas propagandas da TVEducativa, nas revistas da Editora Abril, nos supermercados de grandes redes, na C&A. Enfim, apelo é o que não falta para você ajudar a preservar o meio ambiente.
A ideia é você sair do supermercado com as compras em caixas de papelão ou nessas sacolas, que devem ser reaproveitadas, ao invés de descartadas no meio ambiente, como ocorre com os sacos de plástico.
Só não explicam: se não terei mais sacolas plásticas, que reutilizo para colocar o lixo da casa, como vou levá-lo para fora agora?
Para usar as ECO BAGs o país precisaria ter, em pleno e perfeito funcionamento, um sistema NACIONAL de tratamento dos resíduos sólidos, afinal de contas não é porque tenho uma sacola ecologicamente correta que vou deixar de produzir resíduos. Aliás, por mais hábitos que eu mude e por mais verde que fique, é impossível viver em centros urbanos sem produzir lixo. Portanto, para que eu acredite na preocupação ecológica das empresas que estimulam o uso dessas sacolinhas, elas terão que me mostrar as ações que estão promovendo, junto ao poder público, para a implantação de um sistema decente de tratamento do lixo. Pelo menos, façam como as empresas de cigarro e insiram em suas eco bags e nas propagandas o seguinte aviso

“SEUS GOVERNANTES TEM OBRIGAÇÃO DE TRATAR ADEQUADAMENTE SEU LIXO. PROCURE O MINISTÉRIO PÚBLICO DE SUA CIDADE”

9 de mar. de 2010

Cuidando de mim - parte II ou FELIZ DIA DA MULHER 2010

Ontem conheci uma mulher fabulosa! Mas não é tanto sobre suas qualidades que desejo falar, mas sobre a máquina de lavar que ela não tem.
Mãe, esposa, trabalhadora. Três filhos homens em idade escolar. Marido. Casa, garagem, quintal, jardim, ar condicionado, carro, dois poodles. Marido joga futsal, “por lazer”, há 15 anos. Os meninos não ajudam nas tarefas domésticas, “eles estudam”. O marido, ora, o marido é o marido, “oxe!” Não tem empregada nem diarista. Ela faz tudo sozinha, antes e depois do trabalho “fora”.
Conversávamos sobre facilidades e dificuldades domésticas e falei que ainda estou travando conhecimento com nossa máquina de lavar roupa. O assunto chamou sua atenção, fez inúmeras perguntas e lá pelas tantas, depois de todos os detalhes que eu pude dar, perguntei: “Como é a sua?” Ela comentou que o marido usa em média 3 calças jeans por semana e os meninos usam fardamento, mas quanto à máquina:
“Não temos. Ainda. Porque não é prioridade, sabe?” pausou, piscou “É prioridade, mas não muita, não agora”.
“Anram”.
A família dessa mulher fabulosa, inclusive ela mesma, não considera máquina de lavar roupa prioridade. Se essa mulher morrer amanhã a família compra a máquina com o dinheiro do seguro de vida dela. Se essa mulher não morrer, e ela mesma não mudar – vai morrer sem essa máquina. A não ser que ganhe uma – e a família não considere que vai onerar a conta de energia elétrica.
A todas vocês, quer tenham ou não máquina de lavar, meus sinceros PARABÉNS e ainda mais sinceros desejos de BOA SORTE!